No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.
Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!
Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto!...
Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto!...
Florbela Espanca
("A um livro" - Livro de Mágoas)
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.
Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!
Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto!...
Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto!...
Florbela Espanca
("A um livro" - Livro de Mágoas)
4 comentários:
Porque será Florbela Espanca uma poetiza tão esquecida?
Ela é admirável e foi uma mulher notável, que viveu uns bons anos à frente do seu tempo.
Junto a Sophia, a Andrade, a Botto e a Al Berto, compõem o meu lote de poetas portugueses favoritos (além dos clássicos Camões e Pessoa, não me batam).
Eu gosto muito de Florbela Espanca e é como dizes, não se percebe porque não é mais vezes evocada.
Além dos brilhantes poetas que indicadas eu ainda tenho mais um que venero: Régio, pois claro.
Eu acrescentaria Cesário Verde, que tanto me lembra as minhas origens.
Há uns anitos, quando comecei a gostar de poesia, devorava sonetos da Florbela Espanca.
Coelho, gosto de Cesário Verde também. Apenas guardo más memórias de uma altura em que fui obrigado a ler e a decorá-lo, e tudo o que não é feito por vontade própria...
A par de Cesário aprecio a poesia de José Duro, poeta natural de Portalegre e pouco conhecido. (google it).
José Duro "partilha" com Cesário o facto de terem morrido muito novos (Cesário com 31 e J.Duro com 25), e de terem as suas obras publicadas postumamente. (embora J.Duro tenha publicado textos ainda em vida)
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