João, às "primeiras" achei que fazia sentido. Depois de ler melhor, já não tanto. Mas como já tinha postado, deixei ficar. eheh
Tento não me preocupar muito com o futuro, dada a minha propensão de sofrer por antecipação. Mas definitivamente, agarro-me muito ao passado e constantemente vou lá buscar pessoas, pensamentos, momentos, etc., para viver o presente. Abraço.
essa é que é essa! faz todo o sentido. numa explicação mais terra-a-terra, mais imediata, talvez não, mas se pensarmos chegamos sempre ao mesmo: já não somos o que fomos, já não temos o que tivemos, desconhecemos o que seremos e como seremos. a única certeza é o instante presente. a parte sobre o passado pode ser a mais difícil de assimilar, mas de que forma é que "temos o passado"? pela memória. pelas saudades da infância? de uma idade de que só lembramos umas coisitas e grande parte delas é porque no-las contam?... a nossa memória é do mais falível que há, nós gostamos de cruzar coisas e quando mais recuada for a memória mais fantasiada será. bem, mas há os documentos - fotos, vídeos, testemunhos - da nossa passagem por ali. mas os documentos são o nosso passado? ou somos uma outra coisa diferente dos testemunhos que vamos deixando? o relato dos outros são o nosso passado? de que modo é que eu posso dizer que eu sou igual ao que fui? até biologicamente impossível dizer que continuo igual quando morrem não sei quantas células, nascem outras, e caminhamos sempre para a morte!?
depois, há o reverso. mas não somos afinal sempre os mesmos? não somos sempre nós? se mudamos sempre, somos quantos?
se tiveres curiosidade vê mesmidade e ipseidade (Paul Ricoeur e não só - por sinal, bastante posterior a Pessoa)... se tiveres muito calor, bebe uma imperial que o efeito é mais ou menos o mesmo e ainda refresca...
já agora, uma citação congénere que costumo agarrar em situações oportunas:
«Mas o instante-já é um pirilampo que acende e apaga, acende e apaga. O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente no chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará num imediato que absorve o instante presente e torna-o passado. Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago.» CLARICE LISPECTOR, Água Viva, 1980
gosto muito do Pessoa e da Clarice ainda mais! :))
Zoninho, que comentário....muito obrigado. Já estive a ver a mesmidade e ipseidade, conceitos que desconhecia. Muito interessante mesmo, e a merecer uma leitura mais atenta. Pessoa...é Pessoa. Obrigado também por dares a conhecer a Clarice que, ignorância minha, não conhecia. Abraço.
4 comentários:
Não estarei 100% de acordo...
João, às "primeiras" achei que fazia sentido. Depois de ler melhor, já não tanto. Mas como já tinha postado, deixei ficar. eheh
Tento não me preocupar muito com o futuro, dada a minha propensão de sofrer por antecipação.
Mas definitivamente, agarro-me muito ao passado e constantemente vou lá buscar pessoas, pensamentos, momentos, etc., para viver o presente.
Abraço.
essa é que é essa! faz todo o sentido. numa explicação mais terra-a-terra, mais imediata, talvez não, mas se pensarmos chegamos sempre ao mesmo: já não somos o que fomos, já não temos o que tivemos, desconhecemos o que seremos e como seremos. a única certeza é o instante presente. a parte sobre o passado pode ser a mais difícil de assimilar, mas de que forma é que "temos o passado"? pela memória. pelas saudades da infância? de uma idade de que só lembramos umas coisitas e grande parte delas é porque no-las contam?... a nossa memória é do mais falível que há, nós gostamos de cruzar coisas e quando mais recuada for a memória mais fantasiada será. bem, mas há os documentos - fotos, vídeos, testemunhos - da nossa passagem por ali. mas os documentos são o nosso passado? ou somos uma outra coisa diferente dos testemunhos que vamos deixando? o relato dos outros são o nosso passado? de que modo é que eu posso dizer que eu sou igual ao que fui? até biologicamente impossível dizer que continuo igual quando morrem não sei quantas células, nascem outras, e caminhamos sempre para a morte!?
depois, há o reverso. mas não somos afinal sempre os mesmos? não somos sempre nós? se mudamos sempre, somos quantos?
se tiveres curiosidade vê mesmidade e ipseidade (Paul Ricoeur e não só - por sinal, bastante posterior a Pessoa)... se tiveres muito calor, bebe uma imperial que o efeito é mais ou menos o mesmo e ainda refresca...
já agora, uma citação congénere que costumo agarrar em situações oportunas:
«Mas o instante-já é um pirilampo que acende e apaga, acende e apaga. O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente no chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará num imediato que absorve o instante presente e torna-o passado. Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago.»
CLARICE LISPECTOR, Água Viva, 1980
gosto muito do Pessoa e da Clarice ainda mais! :))
abraço
Zoninho, que comentário....muito obrigado.
Já estive a ver a mesmidade e ipseidade, conceitos que desconhecia. Muito interessante mesmo, e a merecer uma leitura mais atenta.
Pessoa...é Pessoa.
Obrigado também por dares a conhecer a Clarice que, ignorância minha, não conhecia.
Abraço.
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