24 de janeiro de 2011

1978>2011

Situação: O fim das férias.

Ano 1978:
Depois de passar 15 dias com a família atrelada numa caravana puxada por um Fiat 600 pela costa de Portugal, terminam as férias.
No dia seguinte vai-se trabalhar.

Ano 2011:
Depois de voltar de Cancún de uma viagem com tudo pago, terminam as férias.
As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão, seborreia e caganeira e metem uns dias de baixa para recuperarem das férias.

Situação: Chega o dia de mudança de horário de Verão para Inverno.

Ano 1978:
Não se passa nada.

Ano 2011:
As pessoas sofrem de distúrbios de sono, depressão e caganeira.

Situação: O Pedro está a pensar ir até ao monte depois das aulas, assim que entra no colégio mostra uma navalha ao João, com a qual espera poder fazer uma fisga.

Ano 1978:

O director da escola vê, pergunta-lhe onde se vendem, mostra-lhe a sua, que é mais antiga, mas que também é boa.

Ano 2011:
A escola é encerrada, chamam a Polícia Judiciária e levam o Pedro para um reformatório.
A SIC e a TVI apresentam os telejornais desde a porta da escola.

Situação: O Carlos e o Quim trocam uns socos no fim das aulas.

Ano 1978:
Os companheiros animam a luta, o Carlos ganha. Dão as mãos e acabam por ir juntos jogar matrecos.

Ano 2011:
A escola é encerrada. A RTP proclama o mês anti-violência escolar, o Jornal de Notícias faz uma capa inteira dedicada ao tema, e a TVI insiste em colocar um pivôt à porta da escola a apresentar o telejornal, mesmo debaixo de chuva.

Situação: O Jaime não pára quieto nas aulas, interrompe e incomoda os colegas.

Ano 1978:
Mandam o Jaime ir falar com o Director, e este dá-lhe uma bronca de todo o tamanho.
O Jaime volta à aula, senta-se em silêncio e não interrompe mais.

Ano 2011:
Administram ao Jaime umas valentes doses de Ritalin. O Jaime parece um zombie. A escola recebe um apoio financeiro por terem um aluno incapacitado.

Situação: O Luis parte o vidro dum carro do bairro dele. O pai caça um cinto e espeta-lhe umas chicotadas com este.

Ano 1978:
O Luis tem mais cuidado da próxima vez. Cresce normalmente, vai à universidade e converte-se num homem de negócios bem sucedido.

Ano 2011:
Prendem o pai do Luís por maus-tratos a menores. Sem a figura paterna, o Luís junta-se a um gang de rua.
Os psicólogos convencem a sua irmã que o pai abusava dela e metem-no na cadeia para sempre.
A mãe do Luís começa a namorar com o psicólogo.
O programa da Fátima Lopes mantém durante meses o caso em estudo, bem como o Você na TV do Manuel Luís Goucha.
A TVI faz uma novela de 600 episódios baseados no drama da vida real.

Situação: O Zézinho cai enquanto praticava atletismo, arranha um joelho. A sua professora Maria encontra-o sentado na berma da pista a chorar. Maria abraça-o para o consolar.

Ano 1978:
Passado pouco tempo, o Zézinho sente-se melhor e continua a correr.

Ano 2011:
A Maria é acusada de perversão de menores e vai para o desemprego.
Confronta-se com 3 anos de prisão. O Zézinho passa 5 anos de terapia em terapia.
Os seus pais processam a escola por negligência e a Maria por trauma emocional, ganhando ambos os processos. Maria, no desemprego e cheia de dívidas suicida-se atirando-se de um prédio. Ao aterrar, cai em cima de
um carro, mas antes ainda parte com o corpo uma varanda.
O dono do carro e do apartamento processam os familiares da Maria por destruição de propriedade. Ganham.
A SIC e a TVI produzem um filme baseado neste caso e a RTP promove debates e especiais de informação.

Situação: Um menino branco e um menino negro andam à batatada por um ter chamado "chocolate" ao outro.

Ano 1978:
Depois de uns socos esquivos, levantam-se e cada um para sua casa.
Amanhã são colegas e tornam-se grandes amigos.

Ano 2011:
A TVI envia os seus melhores correspondentes.
A SIC prepara uma grande reportagem dessas com investigadores que passaram dias no colégio a averiguar factos.
A RTP emite programas documentários sobre jovens problemáticos e ódio racial.
A juventude Skinhead finge revolucionar-se a respeito disto.
O governo oferece um apartamento à família do miúdo negro.

Situação: Fazias uma asneira na sala de aula.

Ano 1978:
O professor espetava duas valentes lostras bem merecidas.
Ao chegar a casa o teu pai dava-te mais duas porque "alguma deves ter feito".

Ano 2011:
Fazes uma asneira. O professor pede-te desculpa. O teu pai pede-te desculpa e compra-te uma Playstation 3.


(recebido por e-mail)

11 comentários:

João Roque disse...

Eu recebi este mail e achei-o estupendo.
Agora chamem-me conservador ou saudosista, ou mesmo retrógrado; não me chateia nada.
Há coisas que a vida moderna alterou para muito melhor (quase tudo...); mas há outros aspectos em que a vida está muito mais complicada.
Eu voltar a ser professor? NUNCA!

josé disse...

Não podia corresponder mais á verdade! Dramas, sensasionalismo, especulações e mais umas coisas pré-fabricas importadas muitos com o selo Made in USA

Excelente comparação, fiquei sem saber se devia rir ou chorar :)

Abraço

Mike disse...

João, a vida dos professores hoje em dia é um inferno e admiro o trabalho deles, tanta vez inglório.
Desde que deram força aos alunos, o professor deixou de ser visto pelos alunos como o "senhor professor", como era no meu tempo.
Há dias, uma amiga minha que é professora, contava-me que teve que pedir para chamarem a policia à escola porque umas quantas mães lhe foram pedir satisfações à porta da escola, sobre determinadas questões. As mesmas mães que nas reuniões de pais não põem lá os pés.

Mike disse...

José, temos que rir. Que havemos de fazer senão assistir a tão degradante espectáculo?!
É caso para dizer, o que um político disse há tempos em relação a outro assunto: Se não fosse grave, era ridículo.

Myke disse...

Estranho não me estranhar nada!

um coelho disse...

Muitos ficam chocados quando digo isto, mas acho que uma lambada por vezes não faz mal nenhum. Eu apanhei algumas, e não me fizeram mal nenhum.

Blog Liker disse...

Mike, agora vamos ter de ir ao psicólogo porque ficámos perturbados com as memórias do passado! LOL

Mike disse...

Myke, isto é tão estranhamente real que já nem nos afecta.

Mike disse...

Coelho, eu ainda sou do tempo que a reguada, o puxão de orelhas, o calduço e outros "açoites" eram tidos como normais, surtiam o seu efeito e ninguém morria.

Mike disse...

BlogLiker, od "putos" de agora devem logo entrar em depressão se leram como eram as coisas no antigamente.

Angelo disse...

Isto é tão verdade!