Escreveu uma carta em português e foi expulso do Exército americano. A missiva continha referências a um amor não consentido pelas políticas militares dos Estados Unidos.
John tinha 21 anos, um uniforme e uma paixão antiga. Em Janeiro de 2002, que é quando se dão os factos que aqui se relatam, prestava serviço em Fort Huachuca, no Arizona. Era um homem bonito, inteligente e com medo. Passara todos os testes de aptidão em línguas estrangeiras e alcançara o nível 4, o mais alto nos parâmetros da instrução militar americana. Falava espanhol com fluência e não se atrapalhava no italiano e no português.
Num dia incerto de Janeiro de 2002, fora do horário de trabalho, decidiu escrever uma carta de amor a outro homem e foi descoberto. Que não tenha utilizado a língua inglesa, mas a portuguesa - que pensava erradamente não poder ser decifrada pelos seus colegas -, foi uma precaução sem efeito. Alguém espreitou a carta, apercebeu-se do conteúdo e fez constar que John era homossexual. Seguiu-se a exoneração.
[...]
John Alexander Nicholson, hoje com 29 anos, passou toda a vida na Costa Leste dos EUA. Nasceu na Carolina do Norte, cresceu na Carolina do Sul, viveu na Florida e assentou praça na Georgia, em Fort Benning, um campo de treino militar estabelecido em 1918. Só depois foi para o Arizona. Actualmente vive em Washington DC. E depois de ter passado alguns meses a viver no Egipto acrescentou o árabe à sua lista de idiomas.
[...]
"Estava a escrever uma longa carta a um rapaz brasileiro com quem eu costumava sair quando vivia em Miami. Tínhamos acabado a relação e não nos falávamos. Escrevi-lhe para esclarecer as coisas e desanuviar o mau ambiente que se tinha criado entre nós", relata. "Havia na carta pormenores sobre os nossos encontros, o que obviamente indicava que sou gay."
Ao escolher o português, fê-lo não só porque o ex-namorado era brasileiro mas porque tinha bem presentes as consequências da política DADT (Don't Ask Don't Tell). "Escreveu em português para evitar que outros militares pudessem ler a carta", diz a sentença. E prossegue: "Apesar de todas as precauções, uma militar avistou a carta enquanto ambos conversavam. Após alguns minutos, Nicholson apercebeu-se de que ela também sabia português e, perante o notório interesse desta, tratou de esconder as várias folhas que tinha escrito."
Após o incidente, alguns camaradas disseram-lhe para ter "mais cuidado" com a exteriorização da sua sexualidade. Preocupado, o militar procurou o sargento da companhia e pediu-lhe ajuda para travar a disseminação do rumor. "Em vez disso, o sargento participou o caso à cadeia de comando", escreve a juíza.
John Nicholson foi chamado por um oficial superior, soube que o seu processo de exoneração estava em curso e recebeu ordens para não revelar as razões do procedimento. Em Março de 2002, já não fazia parte do Exército americano. Juntava-se aos mais de 13 mil militares americanos que entre 1993 e 2009 foram expulsos por causa da sua orientação sexual, regista o "memorandum opinion".
Lido no Público.
Artigo completo aqui
John tinha 21 anos, um uniforme e uma paixão antiga. Em Janeiro de 2002, que é quando se dão os factos que aqui se relatam, prestava serviço em Fort Huachuca, no Arizona. Era um homem bonito, inteligente e com medo. Passara todos os testes de aptidão em línguas estrangeiras e alcançara o nível 4, o mais alto nos parâmetros da instrução militar americana. Falava espanhol com fluência e não se atrapalhava no italiano e no português.
Num dia incerto de Janeiro de 2002, fora do horário de trabalho, decidiu escrever uma carta de amor a outro homem e foi descoberto. Que não tenha utilizado a língua inglesa, mas a portuguesa - que pensava erradamente não poder ser decifrada pelos seus colegas -, foi uma precaução sem efeito. Alguém espreitou a carta, apercebeu-se do conteúdo e fez constar que John era homossexual. Seguiu-se a exoneração.
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John Alexander Nicholson, hoje com 29 anos, passou toda a vida na Costa Leste dos EUA. Nasceu na Carolina do Norte, cresceu na Carolina do Sul, viveu na Florida e assentou praça na Georgia, em Fort Benning, um campo de treino militar estabelecido em 1918. Só depois foi para o Arizona. Actualmente vive em Washington DC. E depois de ter passado alguns meses a viver no Egipto acrescentou o árabe à sua lista de idiomas.
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"Estava a escrever uma longa carta a um rapaz brasileiro com quem eu costumava sair quando vivia em Miami. Tínhamos acabado a relação e não nos falávamos. Escrevi-lhe para esclarecer as coisas e desanuviar o mau ambiente que se tinha criado entre nós", relata. "Havia na carta pormenores sobre os nossos encontros, o que obviamente indicava que sou gay."
Ao escolher o português, fê-lo não só porque o ex-namorado era brasileiro mas porque tinha bem presentes as consequências da política DADT (Don't Ask Don't Tell). "Escreveu em português para evitar que outros militares pudessem ler a carta", diz a sentença. E prossegue: "Apesar de todas as precauções, uma militar avistou a carta enquanto ambos conversavam. Após alguns minutos, Nicholson apercebeu-se de que ela também sabia português e, perante o notório interesse desta, tratou de esconder as várias folhas que tinha escrito."
Após o incidente, alguns camaradas disseram-lhe para ter "mais cuidado" com a exteriorização da sua sexualidade. Preocupado, o militar procurou o sargento da companhia e pediu-lhe ajuda para travar a disseminação do rumor. "Em vez disso, o sargento participou o caso à cadeia de comando", escreve a juíza.
John Nicholson foi chamado por um oficial superior, soube que o seu processo de exoneração estava em curso e recebeu ordens para não revelar as razões do procedimento. Em Março de 2002, já não fazia parte do Exército americano. Juntava-se aos mais de 13 mil militares americanos que entre 1993 e 2009 foram expulsos por causa da sua orientação sexual, regista o "memorandum opinion".
Lido no Público.
Artigo completo aqui
10 comentários:
Jornalista que se preze teria conseguido publicar partes da carta. fiquei curioso
É a ilógica do DADT e ainda por cima de forma corrupta. A lei comtempla isso mesmo "don't ask don't tell", ou seja, não contas a tua história pessoal e sexual e também não tentas sacar a de quem não a quer partilhar, e ficava por aí apesar de já ser absurdo. Mas não, e ao contrário da ideia que John McCain tentou passar nos media, existe uma perseguição a suspeitos de homossexualidade, é a idiotice à força grande.
John McCain ficou ainda mais mal visto na história quando se soube que à poucos meses ouviu o testemunho de um ex-militar (ex precisamente porque foi expulso por ser homossexual) que viu a sua identidade sexual revelada depois de lhe terem lido os emails.
John McCain ficou ainda mais mal visto depois de os altos chefes terem aprovado o abate do DADT e de a maioria da população Americana sempre contra esta politica.
Foi mais um jogo político sujo que espero que tenha uma forte carga nas votações em Novembro. Os Republicanos naterem no fundo do poço mas será que se salvam? Tudo é possível por terras do tio Sam.
Ah, e lol (carregaste nos meus botões), já ouviste falar da soberba personagem Christine O'donnel? Procura vídeos! E também as últimas fabulosas declarações de Barack Obama sobre a Fox News.
;)
Abraço
O que mais me repugna é o facto da delação, o que prova uma "caça às bruxas" em relação aos homossexuais pertencentes às forças armadas americanas.
Speedy, realmente fica-se curioso. É porque não foi nenhum jornalista do CM ou do i (não gosto do estilo), se querias ver a carta toda publicada.
Félix, não te posso pisar, que ficas possuído homem. :-)
Se sei quem é a Christine O'Donnell? Então não, aquela criatura que fez campanhas de anti-masturbação para curar os gays e que diz que a SIDA é uma penitência justa do pecado da promiscuidade, entre outras demências.
A Rachel Maddow tem falado dela e tenho visto os vídeos do programa Politically Incorrect que era apresentado pelo Bill Maher...é assustador ouvir aquela tipa a falar.
Criatura que é presença assídua na FOX, que tem um jornalismo tão bom e tão isento que até arrepia. (é a TVI lá da zona mas x500).
Vai daí o Obama "declarou guerra" à Fox e lançou o debate sobre a liberdade de expressão.
Tenho que te pisar mias vezes. ;-)
Abraço.
João, caça às bruxas? As coisas que tu inventas. :-)
É realmente um absurdo, uma hipocrisia.
Abraço.
é tão revoltante, ver o Princípio da Igualdade manuseado a bel-prazer do homem, na sua ignorância ...nem de propósito hoje tive uma belíssima aula onde falamos de justiça e injustiça, na sua linha ténue...enfim, e houve uma frase e uma dedução minha dessa aula que ficaram: a frase: a Justiça é cega, mas a injustiça eu consigo ver; e a minha dedução é que a Justiça é divina, mas a injustiça é humana.
Agora um aparte, acho maravilhoso o trabalho que a minha fofosura denominada Gaga (Gaguita para os íntimos) anda a fazer, ela e a Cindy Lauper, nesta última com iniciativa Give a Damn.
Eu acredito na evluçã antropológica, e acredito que estamos num ponto de viragem sócio-cultural...a ver...
Emanuel, esta gente sabe lá o que é o princípio da igualdade. A alguns tinha que lhe ser ensinado o que era "princípio".
A ignorância é tão mais visível quando se ouve o tipo do Reino Unido a falar e que vai de encontro ao que nós pensamos que é o correcto e o normal.
Também por isso acho que estamos num ponto de viragem...com alguma dificuldade em dar a volta completa. Mas a ver vamos.
Sim, já sabia da Gaguita e da Cindyzinha. :-) Tenho visto os vídeos da campanha "We give a damm".
Abraço.
obrigado pela partilha que me passaria ao lado: gostei de saber que ainda se escrevem cartas de amor em português, mesmo que isso seja sinal de que há algo de errado com o conteúdo. de resto, a América no que melhor tem de justa e igualitária. abraços
O título do post, que é o da notícia, até daria um bonito nome para um livro, eu acho.
Toda a história é bonita, não fosse ela ser história pelos motivos errados.
Abraço.
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