12 de setembro de 2010

Alcunhas

A alcunha é apanágio da aldeia. Está dito e redito que a vida urbana fomenta relações impessoais; destrói os laços do parentesco, pulveriza os elos tradicionais, reduz as relações de vizinhança, esvazia o compradio.

No Alentejo, os grandes centros populacionais não deixam de ser aglomerados rurais, posto de parte o critério demográfico e tendo em linha de conta hábitos, tradições, costumes, modos de vida, fluxos migratórios internos, etc. É natural pois, que “o mau-nome” circule nas vilas e cidades mais populosas, como verdadeira instituição sócio-cultural. É porém, a aldeia o espaço privilegiado dos nomes falsos.

A alcunha marca, no Alentejo, os processos de comunicação e sociabilidade do mundo rural. A palavra alcunha deriva do árabe "al-kunia", significando sobrenome, cognome, e traduzia uma relação de paternidade. Tal vínculo parecer ter-se tornado, em geral, numa relação de filiação. Ou seja, identifica preferencialmente os descendentes a partir das alcunhas dos descendentes (ex: o filho do Seca-Adegas, a neta do Velho Xirol, a sobrinha do Capitão Nalguinhas, etc.).

Nalgumas localidades, utiliza-se a forma masculina, alcunho. Em certas zonas do Alentejo, nomeadamente no norte do distrito de Portalegre e em algumas povoações do distrito de Beja, utiliza-se o termo anexim com o significado de alcunha.

A título de curiosidade, refira-se que, em certas áreas do Brasil, apelido significa alcunha. Em determinadas povoações alentejanas, muitas pessoas fazem confusão entre apelido e alcunha, considerando os termos como sinónimos.

Anexim, alcunha, mau-nome, alcunho, nome falso, cognome, apelido, criptonímico, nomeada, todas estas expressões se referem à mesma realidade concreta e palpável que povoa o universo linguístico e simbólico de milhares de locutores, que se apoiam na palavra oral como instrumento privilegiado de comunicação.


Tratado das Alcunhas Alentejanas
Francisco Martins Ramos, Carlos Alberto Silva
Edições Colibri

6 comentários:

Almofariza disse...

Nas minhas Ilhas de Bruma, não há família que se preze que não tenha a sua alcunha.
A nossa é os Carlotas e tudo porque o meu bisavô que se chamava José e como Josés há muitos, era o José que tabalhava para a Srª D. Carlota.

;)

Cadês
Almofariza

Unknown disse...

a pergunta é: qual é a tua? :)

Mike disse...

Almofariza, a parte engraçada é mesmo saber a origem das alcunhas.
Neste livro que refiro, o Tratado das Alcunhas Alentejanas, o "significado" das alcunhas é explicado dessa maneira como o fez, no caso da sua alcunha.

Mike disse...

Speedy, If I told you, I'd have to kill you!!! :-)
Nem sequer sou muito de alcunhas. Um dia que eventualmente nos conheçamos, vais perceber porque.

Unknown disse...

só perguntei porque o meu avô também tinha a sua, e que carinhosamente passou para os filhos. Gosto de pensar que também a posso tomar como minha :)

euzinho disse...

Nas Beiras também se utilizam muito as alcunhas e na zona dos meus pais fizeram lançaram também um livro do género e que depaois vem com a listagem das alcunhas todas da vila,é delirante! A minha família não tem nenhuma,pelo menos nenhuma que pegasse e passasse de geração em geração...Sei de uma tetra tia avó qualquer que era a falseia (porquê, não sei) e o meu avô que era o mestre,por ser professor (acho eu)...