Dois idosos de Amoreiras do Mondego, Guarda, travam uma luta familiar para viverem juntos e selarem um amor interrompido há 60 anos. Quando eram novos não casaram porque eram de condição económica diferente. Agora que enviuvaram, enfrentam a oposição dos filhos.
"Havia muitas raparigas na terra, mas a Aida era a mais boneca e um dia falei-lhe", conta José Albano, de 82 anos. "Namorámos quando ela tinha apenas 15 anos e eu andava na casa dos 20. Mas, ao passo que eu era um pobretana, a família dela tinha uns bocaditos e tudo correu mal", prosseguiu, deixando adivinhar o resto da história.
"Olhe que eu cheguei a arranjar emprego no jardim do hospital da Guarda e no regresso à aldeia corri para lhe contar, mas ela já nem quis ouvir", disse desgostoso e, ainda hoje, amargurado pelo facto de, ao fim de cinco anos, a namorada de então aceitar como bons os conselhos para desposar um homem de melhor posição económica.
"Fui uma besta", reconheceu Aida, 78 anos. "Julgava eu que havia de enriquecer sem trabalhar e acabei por deixar fugir o único homem que amei", diz, com a mesma clareza que emana dos seus enormes olhos verdes.
Casou com um homem, de quem enviuvou há 40 anos e de quem teve quatro filhos. José Albano também casou, teve dois filhos e enviuvou há cinco anos.
Tantas desventuras e seis décadas depois, os dois querem finalmente viver juntos. Mas agora são os filhos de Aida, todos emigrados na Suiça, que fazem oposição.
"Quando o pai deles morreu, fui eu que o preparei para o funeral. E sempre que posso, ainda faço uns trabalhos agrícolas no que é deles. E é assim que me agradecem", lamenta José Albano.
Aida está revoltada com a situação. "Eles não quebram, mas eu também não e como sou maior e vacinada, hei-de acabar os meus dias com ele", afirmou com ternura no olhar.
"Eu só gostava de viver em paz com a mulher de quem vivi separado estes anos todos. Ela diz que não me deixa e eu também não penso fazê-lo. Veremos o que isto dá", conclui José Albano.
Sorrindo, mas com os olhos rasos de água.
Por Madalena Ferreira in JN