9 de abril de 2010

Quase gosto da vida que tenho

"Não sei para o que vim. Sei porque tive de vir: para escapar ao que me sufocava. Como se não houvesse outro lugar, outra cidade. Como um estilhaço de ferro é atraído por um íman.
Agora devo esperar que algo aconteça, sem ter a mínima certeza de que vai acontecer, com a angústia acrescida de que algo aconteça sem que eu dê por isso, de falhar o inesperado.
É preciso, creio, distinguir o que se sabe do que não se sabe; e o que não se sabe do que nem sequer se sabe que não se sabe. O que não sei que não sei é o decisivo. Talvez seja por isso que vim até aqui, que tive de regressar a esta cidade no meio de um deserto. O deserto que alastra, não cessa de alastrar, por todo o mundo. Tenho de aprender de novo a esperar. A estar atento.
Repito: facilmente me pode escapar aquilo por que vim, se nem um nome lhe sei dar."


Pedro Paixão, Quase gosto da vida que tenho

2 comentários:

Socrates daSilva disse...

Uau... Que texto oportuno!

Escapar daquilo que nos sufoca pode ser um esforço tão grande, tão intenso, que nem pensamos onde nos vamos meter no futuro.

A única coisa que consola é saber que tudo o que vier não poderá ser pior que a solidão que já se viveu...

(penso eu de que, diria o "bimbo da costa")

Abraço.

Mike disse...

Sócrates, um pouco na onda do teu texto "A inevitabilidade de fazer as pazes com o passado" .
Tantas vezes que me sinto assim, a não saber para o que vim. São dias.
Abraço.